a cultura balofa do escaparete lojista
O homem não tem papas na língua e o princípio do "politicamente correto" é coisa que não lhe assiste.
Proeminente psicanalista português (do melhor que há,
ao que julgo saber), com uma vocação editorial que lhe satura as veias, Vasco
Santos cedo dedicou parte substancial da sua vida ao combate à leitura de
consumo fácil, mesmo ciente de que é essa que vende.
O antigo editor da Fenda que, como o próprio disse: «quero
morrer a editar», abre-nos agora as portas da VS., alertando que se recusa a
publicar a metro para enfarta-brutos. Sim, esses que usam comprar um livro para
férias, para uma leitura de toalha de praia e sobre o qual dizem aos amigos que
se lê bem e que não conseguem parar senão na última página (achando, com isso,
estar a abonar em favor do objeto lido); sim, esses que acham que um bom livro
é aquele que conta uma boa história; sim, esses que leem de forma sôfrega, sem grandes
exigências académicas e intelectuais; sim, esses, esses que nunca comprarão um
livro na VS.
Uma editora que publicará com um elevado grau de
exigência, prestando, a meu ver, uma espécie de serviço público a bem da
cultura e do conhecimento. Daí que me sinta impelido a afirmar que a editora está
talhada não para CLIENTES, mas para UTENTES do saber.
Eu, que tenho a noção do trabalho que dá a leitura de
um Livro de jeito, já tenho comigo as duas primeiras edições da VS.:
- A nossa necessidade de consolo é impossível de satisfazer,
de Stig DAGERMAN (já lido);
- Aforismos, de Karl KRAUS (a ler, sem pressas).
Dr. Vasco Santos, vá por aí que o caminho é
fecundo. E se um dia tiver que fazer a tal Curva da Estrada, que tenha o tal
livro no prelo que, por cá, haverá quem o leia, seguramente.
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