08/12/2023

“COM CERTEZA” DE QUE É ASSIM QUE SE ESCREVE

 



   Não obstante as minhas limitações científicas sobre matérias relacionadas com a Astrofísica, a verdade é que não perco uma oportunidade para ler notícias e artigos sobre o este assunto, pelo fascínio incomensurável que ele me causa. Foi precisamente num desses momentos de leitura que me deparei com algo que me despertou a atenção linguística e mereceu, por isso, um devido apontamento que aqui vos trago.

   O texto em causa veicula a opinião de Vítor Cardoso, um ilustríssimo físico cuja mestria e superlativa erudição de pensamento não passa despercebida na comunidade científica internacional. O artigo vinha publicado no jornal Expresso do pretérito dia 6/10/2020, na sua edição digital (Estamos a aproximar-nos cada vez mais da superfície dos buracos negros - Expresso).

   A certa altura, escreve o autor:

     «[…] Isto não prova que esse objeto seja um buraco negro - na realidade, por definição é impossível provar que buracos negros existem - mas é concerteza evidência boa […]» (sublinhado meu).

   Não configurando propriamente um buraco negro na ortografia portuguesa, não deixo de destacar o erro na grafia de “com certeza”, muito comum, aliás, na generalidade dos utilizadores da nossa língua. Erros como este há-os em quantidades generosas e resultam de uma clara interferência da oralidade na escrita, na medida em que quem fala tende a aglutinar sons que devem ser separados por quem escreve.

   Fenómeno semelhante é aquele que se verifica em equívocos tão recorrentes como “benvindo” em vez de “bem-vindo”, “depressa” em vez de “de pressa”, “derrepente” em vez de “de repente” ou “secalhar” em vez de “se calhar”.