06/03/2024

Entre Tânger e tangerina

 


    Há dias, enquanto fazia algumas compras num minimercado perto da minha casa, lembrei-me de como há palavras que carregam, na sua origem, informação sobre a nossa história. Estava na secção da fruta e, num papel identificador, estava escrito «tangerinas: 2 euros o quilo”. Não foi o preço que me chamou a atenção nem tão-pouco a vontade de as comprar. Foi a palavra em si.

    Fala-se hoje muito, nas escolas, dos domínios de autonomia curricular (as chamadas DAC) e das suas potencialidades na exploração de percursos pedagógico-didáticos que intersetam aprendizagens de diferentes disciplinas. Logo ali, pensei nas muitas palavras da nossa língua que podem convocar um trabalho interdisciplinar bastante fecundo entre a Língua Portuguesa e a História. É que a palavra “tangerina” (outrora chamada laranja tangerina) pode ser, também ela, um discreto documento histórico.

    A palavra recebeu o seu nome de Tânger, a importante cidade do norte de África, conquistada pelos portugueses em 1471. Era aí, nomeadamente no seu porto mercantil, que o pequeno citrino era exportado para a Europa.

    A tangerina, variante feminina de tangerino (gentílico que significa natural da cidade de Tânger), crescia abundantemente nos pomares daquela região e foram precisamente os árabes que a introduziram em Portugal.

    Deixo aqui esta sugestão para “descascar” um trabalho articulado com os alunos, convidando também os professores de Ciência Naturais a juntarem-se a este desafio, pois há também que classificar o fruto sob o ponto de vista científico e nutricional.