05/12/2021

Não digam “rúbrica”, por favor!

Caros leitores, se estiverem atentos à forma como, na conversação dial e também na nossa comunicação social, é pronunciada, de forma reiterada, a palavra “rubrica”, constatarão que esse vocábulo ocorre com a prolação [‘ubrikα], como se a tónica estivesse localizada na primeira sílaba, ou seja: rú–bri-ca.

Ora, mandam as regras da prosódia da língua portuguesa que a palavra em questão seja pronunciada com a tónica na penúltima sílaba [u’brikα], na medida em que se trata de uma palavra paroxítona.

Desenganem-se, por isso, todos aqueles que defendem a coexistência das duas formas, alegando que “rúbrica” nos remete para uma assinatura abreviada e “rubrica”, quando falamos de um assunto, matéria, tópico, programa radiofónico ou televisivo. A palavra deve pronunciar-se com acentuação grave para todas as suas aceções, não possuindo, na escrita, qualquer acento gráfico.

Já agora, deixo-vos aqui uma pequena abordagem à história deste vocábulo tão maltratado nos nossos dias:

Do latim rubrĩca, œ (tinta vermelha), diretamente ligada a ruber, rubra e rubrum (vermelho), tinha como significado “argila vermelha”. O facto de os livros ancestrais e os manuscritos medievos possuírem os seus títulos a cor vermelha fez com que a sua designação passasse a ser conhecida como rubricas. O mesmo sucede com a letra ou linha inicial de um capítulo em códices antigos; as notas dos breviários ou missais; ou os títulos dos capítulos de livros de direito… todos eles escritos a tinta vermelha. Só muito mais tarde, a mesma palavra adquiriu o alcance semântico de assinatura abreviada.

Esta foi a minha rubrica de hoje.