Um dos grandes problemas do mau uso das línguas
naturais consiste na aceitação coletiva de palavras ou expressões erradas e que
proliferam de boca em boca com um aparente rigor linguístico. Consagra-se-lhes
o seu “bom uso” de ânimo leve tal como aquelas mentiras que, de tantas vezes
serem ditas, se transformam em verdades.
Não pretendo com isto afirmar que a ocorrência de
tais fenómenos constitua algum crime de lesa língua. Move-me tão só o ímpeto de
vindicar uma atitude mais crítica por parte de quem acha que faz bom uso da
língua portuguesa, principalmente os órgãos de comunicação social, agentes
essenciais na promoção e preservação do nosso idioma.
Vejamos duas situações concretas:
(1) “Qual o ponto de situação
do 5G em Portugal?”
In Jornal de Negócios, 2 de
maio de 2019
(2) “O Orçamento de Estado para 2020 prevê uma redução de
2,7 pontos percentuais no peso
da dívida pública no PIB...”
In Jornal Expresso, 16 de
dezembro de 2019
Tanto num caso (ponto
de situação) como noutro (orçamento
de estado), o uso da preposição deveria ocorrer na sua forma contraída com
os respetivos determinantes artigos de definidos: da, em (1), e do, em (2).
Não havendo a referida contração, direi que estamos na presença de dois
conceitos e não de duas realidades concretas.
Querendo os jornalistas referir-se, em (1), à
situação em que se encontra a introdução da nova geração de tecnologia móvel no
nosso país, o de deveria ser
substituído por da. E mesmo pode ser
dito em (2), onde o do faria o
verdadeiro sentido, uma vez que não nos estamos a referir a um documento
conceptual, mas tão só ao orçamento do nosso Estado, enquanto conjunto das
instituições que controlam e administram a nossa Nação.
Agora, vou ler o orçamento do Estado para 2020 e tentar
perceber se há boas notícias para o futuro próximo.
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