24/08/2019

Haja quem cuide da nossa Língua!







A dado momento, um casal português que viajava comigo por terras gaulesas abre o roteiro turístico que trazia consigo. Pela terceira vez consecutiva, a mulher volta a indignar-se com o que vê e insiste:

— Mas por que raio é que nada vem em português?!

Lá vinham novamente as quatro línguas habituais: francês, inglês, espanhol e alemão.

O marido bradava ao vento, alegando que aquilo era um insulto à nossa língua, a quinta mais falada em todo o mundo.

— Ó Quim, lá estás tu! Não é a quinta, é a sexta língua com mais falantes.

— Já discutimos sobre isso. É a quinta!

— É a sexta!

— É a quinta!

...


Bom, a quinta ou a sexta… tanto faz. O importante aqui é perceber que a culpa não recai sobre quem fez o dito roteiro; ou a carta de sobremesas da taberna La Kahena; ou diário de bordo do paquete…

A culpa é exclusivamente NOSSA, DOS PORTUGUESES.

Portugal nunca teve políticos que olhassem a nossa língua de forma séria. Nunca houve uma política do idioma credível. Diria mais, nunca houve nenhuma.

Tomemos como exemplo o Instituto Internacional da Língua Portuguesa e a CPLP, duas instituições impulsionadas não pelo governo português, mas pelo executivo brasileiro, era José Sarney o seu presidente. Organismos, diga-se, que se tornaram inertes, sob o olhar desatento de Portugal.

Também a diluente Academia de Lisboa, que é de Ciências, a contrastar com a Academia Brasileira, que é de Letras.

E que dizer dos nossos leitorados espalhados pelas universidades do mundo e que veem a sua intervenção condicionada pelo desinvestimento e desmerecimento dos sucessivos governos do nosso país?

Por que não seguir o exemplo de Espanha, que alguma coisa fez para que a hispanofonia se consolidasse fora de portas, tornando, por exemplo, o espanhol numa língua de oferta obrigatória nas escolas de países onde ela não é falada, como é o caso do Brasil?

Mas não! Nós, portugueses, preferimos andar entretidos a falar do novo acordo ortográfico, promovendo uma beligerância estéril e inútil entre acordistas e não acordistas, para deixar a malta entretida a discutir a qualidade de um tijolo quando a parede está toda torta. Como adoramos nós encher chouriços!

E depois lá vem o Quim e a mulher lamentar o desprezo dos estrangeiros pela nossa língua.

ENFIM!

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