A dado momento, um casal português que viajava comigo por terras gaulesas
abre o roteiro turístico que trazia consigo. Pela terceira vez consecutiva, a
mulher volta a indignar-se com o que vê e insiste:
— Mas por que raio é que nada vem em português?!
Lá vinham novamente as quatro línguas habituais: francês, inglês, espanhol
e alemão.
O marido bradava ao vento, alegando que aquilo era um insulto à nossa
língua, a quinta mais falada em todo o mundo.
— Ó Quim, lá estás tu! Não é a quinta, é a sexta língua com mais falantes.
— Já discutimos sobre isso. É a quinta!
— É a sexta!
— É a quinta!
...
Bom, a quinta ou
a sexta… tanto faz. O importante aqui é perceber que a culpa não recai sobre
quem fez o dito roteiro; ou a carta de sobremesas da taberna La Kahena;
ou diário de bordo do paquete…
A culpa é
exclusivamente NOSSA, DOS PORTUGUESES.
Portugal nunca
teve políticos que olhassem a nossa língua de forma séria. Nunca houve uma
política do idioma credível. Diria mais, nunca houve nenhuma.
Tomemos como exemplo o Instituto
Internacional da Língua Portuguesa e a CPLP, duas instituições impulsionadas não pelo governo português, mas pelo executivo brasileiro, era José
Sarney o seu presidente. Organismos, diga-se, que se tornaram inertes, sob o
olhar desatento de Portugal.
Também a diluente Academia de
Lisboa, que é de Ciências, a contrastar com a Academia Brasileira, que é de
Letras.
E que dizer dos nossos leitorados
espalhados pelas universidades do mundo e que veem a sua intervenção
condicionada pelo desinvestimento e desmerecimento dos sucessivos governos do
nosso país?
Por que não seguir o exemplo de
Espanha, que alguma coisa fez para que a hispanofonia se consolidasse fora de portas, tornando, por exemplo, o espanhol numa língua de oferta
obrigatória nas escolas de países onde ela não é falada, como é o caso do
Brasil?
Mas não! Nós, portugueses, preferimos andar entretidos a falar do novo
acordo ortográfico, promovendo uma beligerância estéril e inútil entre acordistas e não acordistas, para deixar a malta entretida a discutir a qualidade
de um tijolo quando a parede está toda torta. Como adoramos nós encher
chouriços!
E depois lá vem o Quim e a mulher
lamentar o desprezo dos estrangeiros pela nossa língua.
ENFIM!
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