Tinha acabado de sair de uma
reunião cansativa e preparava-me para tomar um chá relaxante no Café Central da
pacata vila de Vouzela. Resolvi fazer o pequeno percurso a pé… quem sabe, a
caminhada não me abriria também o apetite para o famoso pastelinho.
Andar a pé tem vantagens que não
se esgotam apenas no “desenferrujante” exercício físico. Permite-nos poisar o
olhar aqui e ali e observar pormenores que, de outra forma, nos escapariam naturalmente:
uma senhora idosa que falava sozinha pela rua; um moleque apeado que praguejava
com uma bicicleta empenada; um homem de meia-idade que exibia, com orgulho, o
seu farto e bem aparado bigode; um velho cão desdentado que farejava as fezes
de um outro que por ali passara; um condutor irritado com alguém sem pressa
sobre uma passadeira de peões… de tudo um pouco.
Reparei então num equipamento de
recolha de óleos alimentares domésticos, estrategicamente colocado na rua
Ribeiro Cardoso. Louvei a iniciativa para “os meus botões”! As preocupações
ambientais são sempre bem-vindas e o objeto até que se impunha impecavelmente na
estética. Mas foram também “os meus botões” que me alertaram para uma palavra
inscrita no dito: ÓLEÃO, de seu nome.
Óleão?!
Deitei a mão ao meu telemóvel e
tirei a inevitável fotografia.
Mas que raio fazia ali aquele
acento agudo?! Trata-se de um neologismo, é certo, mas isso nada justifica.
Criar um consolidar uma nova palavra é um ato perfeitamente legítimo, mas isso
não isenta quem o cria de cumprir as regras do idioma. E os neologismos devem
respeitar os processos que já existem na língua que os acolhe. Ao que julgo
saber e por analogia com o termo “vidrão”, por exemplo, aquela palavra é
oxítona (acentuada na última sílaba), pelo que o acento agudo ali colocado
desvirtua a pronúncia correta do nome do coitado.
Mas pronto, desde que os
vouzelenses lhe façam bom uso, a malta até se esquece do resto.
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