21/03/2019

ALGUÉM TERÁ DE DAR AS AMÊNDOAS AO OLEÃO







Tinha acabado de sair de uma reunião cansativa e preparava-me para tomar um chá relaxante no Café Central da pacata vila de Vouzela. Resolvi fazer o pequeno percurso a pé… quem sabe, a caminhada não me abriria também o apetite para o famoso pastelinho.

Andar a pé tem vantagens que não se esgotam apenas no “desenferrujante” exercício físico. Permite-nos poisar o olhar aqui e ali e observar pormenores que, de outra forma, nos escapariam naturalmente: uma senhora idosa que falava sozinha pela rua; um moleque apeado que praguejava com uma bicicleta empenada; um homem de meia-idade que exibia, com orgulho, o seu farto e bem aparado bigode; um velho cão desdentado que farejava as fezes de um outro que por ali passara; um condutor irritado com alguém sem pressa sobre uma passadeira de peões… de tudo um pouco.

Reparei então num equipamento de recolha de óleos alimentares domésticos, estrategicamente colocado na rua Ribeiro Cardoso. Louvei a iniciativa para “os meus botões”! As preocupações ambientais são sempre bem-vindas e o objeto até que se impunha impecavelmente na estética. Mas foram também “os meus botões” que me alertaram para uma palavra inscrita no dito: ÓLEÃO, de seu nome.

Óleão?!

Deitei a mão ao meu telemóvel e tirei a inevitável fotografia.

Mas que raio fazia ali aquele acento agudo?! Trata-se de um neologismo, é certo, mas isso nada justifica. Criar um consolidar uma nova palavra é um ato perfeitamente legítimo, mas isso não isenta quem o cria de cumprir as regras do idioma. E os neologismos devem respeitar os processos que já existem na língua que os acolhe. Ao que julgo saber e por analogia com o termo “vidrão”, por exemplo, aquela palavra é oxítona (acentuada na última sílaba), pelo que o acento agudo ali colocado desvirtua a pronúncia correta do nome do coitado.

Mas pronto, desde que os vouzelenses lhe façam bom uso, a malta até se esquece do resto.

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