Como em tudo
na vida, a língua também está sujeita à erosão temporal. Tal como aquela fraga
que se deixa moldar pela ação do vento e das chuvas ou aquela calçada de pedra
calcária já deformada e que outrora foi disposta numa geometria perfeita pela
arte dos mestres calceteiros, assim se vai mostrando a língua portuguesa no tapete rolante dos tempos.
Todo o mundo
é composto de mudança,
Tomando
sempre novas qualidades.
Sábios são os versos do Barbi-Ruivo e que
bem relevam para os propósitos que aqui me trazem hoje! As palavras que hoje
conhecemos não são as mesmas de outros tempos; eu não sou o mesmo de outros
tempos; os meus leitores não são os mesmos de outros tempos. Que o diga o verbo
estar, uma das maiores vítimas da lei
do menor esforço. Quem já não deu por si, na sua fala corrente, a amputar
impiedosamente o verbo estar, nas
suas mais variadas formas?
Pego no telefone e pergunto: “Tá lá?”
Se de lá ninguém responde, insisto: “Tou?”
Já conformado, desligo o dito e desabafo: “Ainda tão a dormir. Tamos tramados!”
No território da língua falada, estas aféreses gozam já de uma inevitabilidade quase universal e as mutações morfológicas decorrentes da sua emergência natural são factuais:
Eu tou
Tu tás
Ele tá
Nós tamos
Vós tais
Eles tão
Proponho que façamos um pequeno esforço para
contrariar esta tendência, mas sem stress.
Se o não conseguirmos, “tá” tudo bem e a vida continua tranquila.
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