03/05/2017

Normativos vs Descritivos





     Ao folhear o JN de 25 de março, parei na página 13 e fixei a minha atenção neste título:

«Papa diz que projecto europeu "arrisca-se a morrer

     Já aqui manifestei a minha tendência normativista no que ao uso da língua diz respeito. Não quero com isto dizer que as gramáticas descritivistas não tenham o seu espaço na explicação do fenómeno linguístico.

Uma leitura atenta da Gramática da Língua Portuguesa de Inês Duarte, Isabel Faria e Mira       Mateus dá-nos conta da consagração pelo uso de enunciados como o título jornalístico acima transcrito. Ou seja, “fica legitimada” a posição enclítica do pronome “se”. No entanto, e dando sequência às minhas convicções normativistas, coloco-me em bicos de pés e arrasto o dito pronome para a posição proclítica, lugar que é seu por direito e por dever. Ou seja, onde se lê “arrisca-se a morrer” deve ler-se “se arrisca a morrer”. Não caros leitores, não se trata de uma cedência linguística aos brasileiros, algo que vai assustando muita gente, vá-se lá saber porquê. Aliás, talvez se deva a tal preconceito a insistência em “erros” como aquele.
     Dizem as regras das boas letras que os pronomes clíticos devam pospor-se ao verbo de que dependem. Essa é a sua ocorrência canónica. Mas adiantam as mesmas regras que existem, tal como na Física, forças gravitacionais exercidas sobre tais pronomes que os atraem e os colocam numa posição anteposta ao verbo. Vejamos alguns exemplos não exaustivos desse fenómeno:


a)      Dizem que me faltaste ao respeito;
b)      Quiseste saber se a tinha procurado;
c)      Nunca te vou procurar;
d)      Nem me fales disso;
e)      Não te armes em esperto;
f)       Quem te avisa teu amigo é;
g)      Esta é a igreja onde ela se casou;
h)      O não estudou porque não lhe apeteceu;
i)       Investi para o ajudar;
j)       Saí quando a vi;
k)      Ainda ontem o alertei;
l)       Sempre me habituei a poupar;
m)     Esses livros também os li.

  Grande parte destes “ímanes” sintáticos foi incorporada na nossa competência linguística não por uma invocação constante de pressupostos gramaticais, mas por mera intuição. Através dela, escrevemos e falamos “de ouvido”.
  * Agora, acho que vou-me ficar por aqui.

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