Ao folhear o JN de 25 de março, parei na página 13 e
fixei a minha atenção neste título:
«Papa diz que projecto europeu
"arrisca-se a morrer"»
Já aqui manifestei a minha tendência
normativista no que ao uso da língua diz respeito. Não quero com isto dizer que
as gramáticas descritivistas não tenham o seu espaço na explicação do fenómeno
linguístico.
Uma leitura atenta da Gramática
da Língua Portuguesa de Inês Duarte, Isabel Faria e Mira Mateus dá-nos conta da
consagração pelo uso de enunciados como o título jornalístico acima transcrito.
Ou seja, “fica legitimada” a posição enclítica do pronome “se”. No entanto, e
dando sequência às minhas convicções normativistas, coloco-me em bicos de pés e
arrasto o dito pronome para a posição proclítica, lugar que é seu por direito e
por dever. Ou seja, onde se lê “arrisca-se
a morrer” deve ler-se “se arrisca a
morrer”. Não caros leitores, não se trata de uma cedência linguística aos brasileiros,
algo que vai assustando muita gente, vá-se lá saber porquê. Aliás, talvez se
deva a tal preconceito a insistência em “erros” como aquele.
Dizem as regras das boas letras que os pronomes
clíticos devam pospor-se ao verbo de que dependem. Essa é a sua ocorrência
canónica. Mas adiantam as mesmas regras que existem, tal como na Física, forças
gravitacionais exercidas sobre tais pronomes que os atraem e os colocam numa
posição anteposta ao verbo. Vejamos alguns exemplos não exaustivos desse
fenómeno:
a)
Dizem que me
faltaste ao respeito;
b) Quiseste saber se a
tinha procurado;
c)
Nunca
te vou procurar;
d)
Nem
me fales disso;
e)
Não
te armes em esperto;
f)
Quem
te avisa teu amigo é;
g)
Esta
é a igreja onde ela se casou;
h)
O não
estudou porque não lhe
apeteceu;
i)
Investi
para o ajudar;
j)
Saí quando a vi;
k)
Ainda ontem o alertei;
l) Sempre me habituei a poupar;
m) Esses livros também os
li.
Grande parte destes “ímanes”
sintáticos foi incorporada na nossa competência linguística não por uma invocação
constante de pressupostos gramaticais, mas por mera intuição. Através dela, escrevemos
e falamos “de ouvido”.
* Agora, acho que vou-me ficar por aqui.
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