O dia de ontem ficou marcado pela
morte de Umberto Eco, um homem que, para a maioria das pessoas, era um prestigiado
escritor italiano e que escreveu “O Nome da Rosa”. E por aí se ficavam. Mas Eco
foi muito mais do que um notável escritor. Cheguei a ele não pela via literária
(pela leitura da sua prosa), mas por uma outra das suas diversificadas
intervenções académicas. Li-o e colhi dele mais do que boas letras.
A minha formação linguística ficou
muito marcada pelos estudos do autor, enquanto semiólogo e linguista. São magnas
as suas reflexões e determinantes os seus ensaios sobre a interpretação de
texto. Se hoje em dia colhe alargada aceitação a teoria dos modelos mentais, a
ele muito se deve. Diz a mesma que não compreendemos um texto que nos é dado a
ler, mas um modelo mental que construímos desse texto, cada um por si só. Ou
seja, quando um leitor lê um texto, vai traçando um rumo interpretativo
compatível não só com o seu conhecimento linguístico (partilhado por todos os utilizadores
da língua em que aquele foi escrito), mas, acima de tudo, formatado na base do
seu conhecimento enciclopédico (um conhecimento experiencial acerca do mundo,
que difere de leitor para leitor) que lhe permite ativar aquilo que Eco
designou por passeios inferenciais na leitura. Só o produto da projeção desses
conhecimentos é que é interpretável; só ele faz sentido. Percebe-se, assim, o
princípio da multiplicidade de interpretações de um mesmo texto.
Este foi apenas um entre muitos
outros postulados que Eco nos deixou e que contribuíram para o advento dos
estudos em Teoria do Texto.
Foram 84 anos bem empregues para ele,
para todos nós e para mim em particular. Daí o título deste meu modesto
tributo.
À partida, um escritor italiano não teria relevância para o seu blogue, Alcídio, pois é sítio dedicado a autores de língua portuguesa. Mas, como diz e com razão, os seus estudos linguísticos são transversais e, por isso, de interesse para todas as línguas. Também eu já li alguns ensaios de semântica de Humberto Eco e adorei.
ResponderEliminar