Foram cravos também em
África.
Faltam cinco dias para festejarmos uma vitória que foi bonita enquanto a deixaram durar. A minha sentida
homenagem ao poeta António Jacinto e a todos os “Monangambé”, meus irmãos angolanos
“contratados” à lei do chicote. Um abraço de liberdade.
http://ocastendo.blogs.sapo.pt/215584.html
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Naquela roça grande
não tem chuva
é o suor do meu rosto que rega as plantações:
Naquela roca grande
tem café maduro
e aquele vermelho-cereja
são gotas do meu sangue feitas seiva.
e aquele vermelho-cereja
são gotas do meu sangue feitas seiva.
O café vai ser torrado
pisado, torturado,
vai ficar negro, negro da cor do contratado.
pisado, torturado,
vai ficar negro, negro da cor do contratado.
Negro da cor do
contratado!
Perguntem às aves que
cantam,
aos regatos de alegre serpentear
e ao vento forte do sertão:
aos regatos de alegre serpentear
e ao vento forte do sertão:
Quem se levanta cedo?
Quem vai à tonga?
Quem traz pela estrada longa
a tipóia ou o cacho de dendém?
Quem capina e em paga recebe desdém
fuba podre, peixe podre,
panos ruins, cinquenta angolares
"porrada se refilares"?
Quem traz pela estrada longa
a tipóia ou o cacho de dendém?
Quem capina e em paga recebe desdém
fuba podre, peixe podre,
panos ruins, cinquenta angolares
"porrada se refilares"?
Quem?
Quem faz o milho
crescer
e os laranjais florescer
e os laranjais florescer
Quem?
Quem dá dinheiro para
o patrão comprar
maquinas, carros, senhoras
e cabeças de pretos para os motores?
maquinas, carros, senhoras
e cabeças de pretos para os motores?
Quem faz o branco
prosperar,
ter barriga grande - ter dinheiro?
ter barriga grande - ter dinheiro?
Quem?
E as aves que cantam,
os regatos de alegre serpentear
e o vento forte do sertão
responderão:
os regatos de alegre serpentear
e o vento forte do sertão
responderão:
"Monangambééé..."
Ah! Deixem-me ao menos
subir às palmeiras
Deixem-me beber maruvo, maruvo
e esquecer diluído nas minhas bebedeiras
Deixem-me beber maruvo, maruvo
e esquecer diluído nas minhas bebedeiras
"Monangambééé…
António Jacinto
Conheci este poema apenas através da música, pela voz de Rui Mingas. Povo sofrido, o angolano. Mas nem assim deixam de sorrir e de serem felizes com o pouco que a vida lhes dá. É esse o segredo da beleza africana.
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