20/04/2015

Monangambé

Foram cravos também em África.

Faltam cinco dias para festejarmos uma vitória que foi bonita enquanto a deixaram durar. A minha sentida homenagem ao poeta António Jacinto e a todos os “Monangambé”, meus irmãos angolanos “contratados” à lei do chicote. Um abraço de liberdade.
http://ocastendo.blogs.sapo.pt/215584.html

Naquela roça grande não tem chuva 
é o suor do meu rosto que rega as plantações:
Naquela roca grande tem café maduro
e aquele vermelho-cereja
são gotas do meu sangue feitas seiva.
O café vai ser torrado
pisado, torturado,
vai ficar negro, negro da cor do contratado.
Negro da cor do contratado!
Perguntem às aves que cantam,
aos regatos de alegre serpentear
e ao vento forte do sertão:
Quem se levanta cedo? Quem vai à tonga?
Quem traz pela estrada longa
a tipóia ou o cacho de dendém?
Quem capina e em paga recebe desdém
fuba podre, peixe podre,
panos ruins, cinquenta angolares
"porrada se refilares"?
Quem?
Quem faz o milho crescer
e os laranjais florescer
Quem?
Quem dá dinheiro para o patrão comprar
maquinas, carros, senhoras
e cabeças de pretos para os motores?
Quem faz o branco prosperar,
ter barriga grande - ter dinheiro?
Quem?
E as aves que cantam,
os regatos de alegre serpentear
e o vento forte do sertão
responderão:
"Monangambééé..."
Ah! Deixem-me ao menos subir às palmeiras
Deixem-me beber maruvo, maruvo
e esquecer diluído nas minhas bebedeiras
"Monangambééé…
António Jacinto

1 comentário:

  1. Conheci este poema apenas através da música, pela voz de Rui Mingas. Povo sofrido, o angolano. Mas nem assim deixam de sorrir e de serem felizes com o pouco que a vida lhes dá. É esse o segredo da beleza africana.

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