Nas
últimas três/quatro décadas, vulgarizou-se em Portugal a prática de uma
atividade curativa sob a designação de medicina
alternativa, nas suas mais variadas manifestações. Sem querer conduzir a
discussão para a controvérsia decorrente das potencialidades terapêuticas dessa
atividade (deixo isso para quem sabe mais do que eu), não posso, contudo,
deixar de fazer sobre ela um pequeno comentário de natureza estritamente
linguística.
No
Grande Dicionário da Língua Portuguesa e José Pedro Machado, pode ler-se, a
propósito da entrada medicina, o
seguinte:
s. f. «Arte e ciência que ensina as
formas de conservar a saúde e de tratar ou atenuar a acção das doenças».
Depreende-se,
com esta definição, a natureza epistémica daquele conceito. Por outras
palavras, falar de medicina é entrar na esfera da ciência, onde emerge como
fundamental a identificação clara de métodos e objetos de estudo perfeitamente
delimitados. Daí que não se perceba a aceitabilidade da designação medicina alternativa. Se determinada
atividade terapêutica não é medicina, terá que procurar outra nomenclatura
taxonómica que não aquela. Alguém aceitaria o conceito de engenharia informática alternativa? Resumindo, ou é medicina ou não
é.
É certo que a
etimologia pode colocar a medicina ao nível da acupuntura, da ventosoterapia, da reflexologia ou da apiterapia. Essa legitimidade paritária
decorre da raiz med-, presente no
indo-europeu, e que assume alcances semânticos equiparáveis a avaliar ou medir. É que, tal como o médico, também os profissionais daquelas
terapias se veem numa perspetiva intermediária, posicionando-se entre o doente
e a doença, com o objetivo de a medir, avaliar e, posteriormente, curar.
Daí que eu recomende a designação de cura alternativa para substituir a
classificação paradoxal de medicina
alternativa.
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