Ao longo das últimas décadas, o correio eletrónico tem vindo a ganhar um espaço preferencial na comunicação entre pessoas, instituições e empresas. De tal forma assim é que seria impensável, nos dias que correm, qualquer um de nós prescindir de tal ferramenta.
São muitas as suas potencialidades e estas não encontram paralelo nos meios de comunicação tradicionais: a rapidez com que chegamos aos nossos destinatários, recorrendo a um simples clique; o envio de mensagens a um grande número de destinatários, em simultâneo; e a possibilidade de anexarmos documentos/imagens. Ora, é precisamente daqui que decorre o tema que hoje vos trago.
Quem nunca escreveu “envio em anexo” que atire a primeira pedra.
Eu não vou atirar, garanto-vos.
A palavra “anexo” é um adjetivo e não um advérbio. Não ocorre como modo
da ação “enviar”, mas como qualificativo do nome a que se refere, com ele
concordando em género e em número. Daí que se escreva “envio anexas as faturas
deste mês” e não ““envio em anexo as faturas deste mês”.
A tendência para a anteposição da preposição “em”, adjacente aos adjetivos,
constitui um galicismo que se revela adverso ao cânone regulamentar da nossa
língua. Nada me move contra os empréstimos linguísticos quando estes se mostram
necessários, o que não é o caso. Quando assim não é, há que evitá-los.
Será este mais um resquício da francomania que se viveu em Portugal nos
anos finais do século XIX? Talvez. Nesses tempos, a nossa capital estava
rendida à cultura francesa e eram muito comuns, por entre nós, as “macaquices
de imitação”. Boas razões levaram, pois, o compositor Raul Ferrão a criar a
célebre música “Lisboa, não sejas francesa”, chegada até nós pela voz sublime
da nossa Amália Rodrigues:
Lisboa, não sejas francesa
Com toda a certeza não vais ser feliz
Lisboa, que ideia daninha
Vaidosa, alfacinha, casar com Paris
Lisboa, tens cá namorados
Que dizem, coitados, com as almas na voz
Lisboa, não sejas francesa
Tu és portuguesa, tu és só pra nós