Não obstante as minhas limitações científicas sobre matérias
relacionadas com a Astrofísica, a verdade é que não perco uma oportunidade para
ler notícias e artigos sobre o este assunto, pelo fascínio incomensurável que
ele me causa. Foi precisamente num desses momentos de leitura que me deparei
com algo que me despertou a atenção linguística e mereceu, por isso, um devido
apontamento que aqui vos trago.
O texto em causa veicula a opinião de Vítor Cardoso, um
ilustríssimo físico cuja mestria e superlativa erudição de pensamento não passa
despercebida na comunidade científica internacional. O artigo vinha publicado
no jornal Expresso do pretérito dia 6/10/2020, na sua edição digital (Estamos a
aproximar-nos cada vez mais da superfície dos buracos negros - Expresso).
A
certa altura, escreve o autor:
«[…]
Isto não prova que esse objeto seja um buraco negro - na realidade, por
definição é impossível provar que buracos negros existem - mas é concerteza
evidência boa […]» (sublinhado meu).
Não
configurando propriamente um buraco negro na ortografia portuguesa, não deixo
de destacar o erro na grafia de “com certeza”, muito comum, aliás, na
generalidade dos utilizadores da nossa língua. Erros como este há-os em
quantidades generosas e resultam de uma clara interferência da oralidade na
escrita, na medida em que quem fala tende a aglutinar sons que devem ser separados
por quem escreve.
Fenómeno semelhante é aquele que se verifica em equívocos tão recorrentes como “benvindo” em vez de “bem-vindo”, “depressa” em vez de “de pressa”, “derrepente” em vez de “de repente” ou “secalhar” em vez de “se calhar”.