Há dias, enquanto fazia algumas compras num minimercado perto da minha casa, lembrei-me de como há palavras que carregam, na sua origem, informação sobre a nossa história. Estava na secção da fruta e, num papel identificador, estava escrito «tangerinas: 2 euros o quilo”. Não foi o preço que me chamou a atenção nem tão-pouco a vontade de as comprar. Foi a palavra em si.
Fala-se
hoje muito, nas escolas, dos domínios de autonomia curricular (as chamadas DAC)
e das suas potencialidades na exploração de percursos pedagógico-didáticos que
intersetam aprendizagens de diferentes disciplinas. Logo ali, pensei nas muitas
palavras da nossa língua que podem convocar um trabalho interdisciplinar bastante
fecundo entre a Língua Portuguesa e a História. É que a palavra “tangerina”
(outrora chamada laranja tangerina) pode ser, também ela, um discreto documento
histórico.
A
palavra recebeu o seu nome de Tânger, a importante cidade do norte de África,
conquistada pelos portugueses em 1471. Era aí, nomeadamente no seu porto
mercantil, que o pequeno citrino era exportado para a Europa.
A tangerina,
variante feminina de tangerino (gentílico que significa natural da cidade de
Tânger), crescia abundantemente nos pomares daquela região e foram precisamente
os árabes que a introduziram em Portugal.
Deixo aqui esta sugestão para “descascar” um trabalho articulado com os alunos, convidando também os professores de Ciência Naturais a juntarem-se a este desafio, pois há também que classificar o fruto sob o ponto de vista científico e nutricional.