No passado dia 21 de
janeiro, Portugal passou a noite de olhos postos no céu, na esperança de presenciar
um raro espetáculo celestial. A Lua estava prestes a perder o seu lugar ao sol,
fundindo-se momentaneamente com o breu do firmamento.
Muitos foram os
órgãos de comunicação social que não quiseram perder a oportunidade de noticiar
o fenómeno mais ou menos nestes termos:
Veja o eclipse lunar total ao vivo
Logo me questionei se seria
correto utilizar a expressão “ao vivo” neste caso concreto, não sendo a Lua um
ser vivente. Deixei essa preocupação de lado e procurei um lugar sossegado e
suficientemente penumbroso para poder assistir ao “abuso” da Terra sobre a Lua.
No
dia seguinte, e porque a referida expressão não me saída da cabeça, procurei
saber o que dizem as vozes de autoridade sobre este tipo de dúvidas, desde logo
em três dicionários de referência: António Houaiss, José Pedro Machado e
Academia das Ciências de Lisboa. Os três convergem na definição de “ao vivo” quando
traçam o seu quadro semântico, remetendo-o para um fenómeno imediato, não
ficcionado ou em tempo real. Mais deixam transparecer que, normalmente, o uso
da expressão está associado a seres humanos. Mas, apesar da consagração desse
uso a seres racionais, aceita-se a metáfora veiculada na notícia como forma de
sublinhar o valor e a beleza decorrentes da observação direta do eclipse sem
recurso aos meios audiovisuais.
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